30.6.08

Survivor

Como eu me mudei há pouco tempo, não sou filho de rico, e nem sou rico eu mesmo, estou tendo que sobreviver no meu alegre cafofinho sem nenhum eletrodoméstico. Aliás, para ser mais exato, eu não tenho nem talheres. A única mesa que eu tenho para comer é a minha escrivaninha de trabalho - a não ser que eu quisesse almoçar na prancheta, mas ela está sem banquinho e eu não gosto de comer em pé.

O maior problema disso tudo é que logo logo sua alimentação fica restrita a pães e biscoitos. Tudo sem manteiga, porque eu não tenho faca. Isso me deixou pensando muito em como a história da alimentação é estranha e cheia de revoluções. Já pararam para pensar que, na maior parte da história da raça humana, as pessoas só comiam comida quente ou na temperatura ambiente? Tinha sempre ali um fogãozinho à lenha, mas o gelado não era uma opção - exceto, é claro, no caso dos nossos queridos amigos innuit ("esquimós" para vocês eurocêntricos).

Outra coisa impressionante é a variedade de frutas e legumes que temos à nossa disposição. O desenvolvimento das tecnologias de embalagens e dos meios de transporte permitem que qualquer cidadão urbano tenha acesso a vegetais frescos vindos de distâncias muito longínquas. Você pode entrar em qualquer supermercado da cidade e comprar batatas, bananas, abacaxis, tomates, cebolas, pepinos, beterrabas, e até mesmo morangos sem sequer se preocupar em que cidade, estado ou país eles foram plantados.

E, mesmo assim, insistimos em nos alimentar com comidas processadas, industrializadas, congeladas, e outras baboseiras que só tinham graça quando foram inventadas, décadas atrás. Esses métodos de conservação de comida foram inventados pelas forças armadas para ajudar nas campanhas militares. Até hoje os exércitos do mundo todo usam comida desidratada, enlatada, congelada e cheia de conservantes para alimentar seus soldados em campanhas. Era bastante importante para os soldados dos Estados Unidos que invadiram o Afeganistão (lembram? que eles comessem cachorro-quente e tomassem Coca-Cola freqüentemente, para "manter a moral da tropa").

Nós, civis pacíficos que comemos apenas para trabalhar, e não para matar os outros, temos muito mais escolhas de comidas frescas e naturais, mas não pensamos muito nisso no dia-a-dia. Estamos tão condicionados a imitar os outros e seguir padrões que alguém estabeleceu que nunca fazemos o que achamos que é mais certo para nós. Em países ricos e industrializados como a Inglaterra e os Estados Unidos, isso se tornou problema de saúde pública. Assistam à série do Jamie Oliver sobre a merenda escolar inglesa e vocês vão entender o tamanho do problema.

Nós, moradores solitários, temos a opção de comermos o que quisermos, sem que ninguém nos encha o saco. Podemos comprar o que quisermos, preparar o que quisermos, sem nos preocuparmos com o que mais alguém vai achar. É uma ótima oportunidade para romper com velhos hábitos, experimentar coisas novas, e repensar toda a nossa alimentação.

Mas eu só vou poder fazer isso quando tiver geladeira. Até lá eu vou me virando com o x-frango do Sindicato do Chopp, que é uma delícia!

2 comentários:

Mario C. disse...

O início é sempre o pior. Eu cheguei a usar uma caixa de pizza como prato.

Mas agora eu tenho de tudo, então se você quiser pelo menos um garfo/faca/prato emprestado, tem aqui.

Locadora do Werneck disse...

Obrigado pela oferta, mas dei um pulinho até o PAG-POUCO e comprei 2 de cada! Agora já consigo cortar o bolo da padaria, ao invés de quebrá-lo ao meio com as mãos.